segunda-feira, 10 de junho de 2013

Intervenção foi prejudicial à Santa Casa, destaca presidente durante reunião da CPI da Saúde

Os deputados que integram a Comissão Parlamentar de Inquérito da Saúde em Mato Grosso do Sul ouviram hoje o presidente da Santa Casa de Campo Grande, Wilson Teslenco. O depoimento foi o primeiro da CPI. Na oitiva ficou comprovado que a Santa Casa foi prejudicada com a intervenção do município de Campo Grande e do Estado de Mato Grosso do Sul. A dívida da entidade era de R$ 47 milhões antes da intervenção e hoje chega a mais de R$ 160 milhões. Somente no último ano foram R$ 80 milhões em dívidas adquiridas pela Junta Interventora.

Segundo o presidente da Santa Casa, Wilson Teslenco, os antigos gestores não se preocuparam nos oito anos de intervenção em preservar a entidade, mas sim fazer com que a unidade hospitalar fosse uma extensão das Secretarias Municipal de Campo Grande e do Estado. “O objetivo não foi alcançado, que era garantir o serviço. O patrimônio foi construído pela ABCG e depois consumido por esse endividamento. A Santa Casa legalmente não existe mais. A dívida consumiu o patrimônio. Essa é a herança que a Abcg recebeu da Junta Interventora. Temos que começar a construir do zero. Agora estamos nesse impasse, com uma dívida de R$ 112 milhões com fornecedores e tributos e 460 ações que tramitam na vara civil e trabalhista, totalizando uma dívida superior a R$ 160 milhões”, destacou.

Conforme o presidente da Santa Casa, a intervenção da Junta Administrativa da Santa Casa foi orquestrada durante anos. “Antes da intervenção a Santa Casa tinha 750 leitos disponíveis ao SUS. Depois da intervenção, houve uma redução para 630 leitos. O pronto-socorro chegou a fechar por uma semana. Neste período não houve investimento em nenhum leito. Ao longo desses anos a direção não estava voltada para o futuro do hospital, apenas uma reposta imediata para a saúde”, destacou.

O presidente da Santa Casa explicou que a Junta Interventora contratou mais pessoas, aumentou as terceirizações e realizou contratos com valores absurdos para aquisição de medicamentos. “Quando deixamos a direção da Santa Casa tínhamos dois mil colabores. Com a intervenção, esse número subiu para três mil. As terceirizações triplicaram. Foram mais de 100. Isso vai significar um grande desafio. Para dispensar os funcionários precisa de dinheiro. É um desfio bastante grande recuperar a Santa Casa”, destacou.

Wilson Teslenco frisou que uma auditoria está sendo realizada pela nova administração e irregularidades já foram encontradas. “Estamos apurando, temos auditores que estão assumindo agora e investigando uma série de situações. Temos que ter cuidado para apurar de forma correta e objetiva. Precisamos proteger as pessoas que são inocentes, separar o erro de uma ilegalidade, e distinguir para não cometer injustiças. No último dia da intervenção foi autorizada a compra de medicamentos que o consumo trimestre representava R$ 46 mil. No último dia se trocou a marca do medicamento por outra que custava R$ 500 mil. Uma parte já havia sido entregue, mas a outra conseguimos suspender e salvar R$ 1.6 milhão”, explicou.

Conforme o presidente Wilson Teslenco, a má administração causou uma série de prejuízos, entre elas a impossibilidade de conseguir um financiamento para quitar a dívida do hospital. “Hoje a Santa Casa enfrenta uma série de grandes ações judiciais. Além disso, não temos o dinheiro para pagar os tributos, o que nos impede a possibilidade de conseguir um financiamento para saldar a dívida do hospital. A Junta Interventora não respeitou o Plano Operativo, que prevê quais são as condições de pagamento, quantidade e que serviços eram realizados. Nós descobrimos que o serviço que a Santa Casa faz e o previsto no plano operativo não tem conotação com a realidade e quantidade dos serviços prestados. Hoje a Santa Casa tem prestado mais serviço do que recebe. Há uma confusão entre quem paga e quem recebe. Ao longo dos 8 anos esse papel ficou confuso. Vários bolsos de uma calça só. Só que o único bolso que saiu rasgado foi o da Santa Casa”, desabafou.

Wilson Teslenco destacou que a atual gestão trabalha hoje com o objetivo de reduzir os gastos da entidade. “A relação contratual precisa ser reestabelecida. Os donos da Santa Casa são os campo-grandenses. A solução não é só aumentar a receita. A Santa Casa tem como reduzir seu custeio, quer seja pela readequação dos contratos, ou reduzindo o número de colaboradores. Hoje trabalhamos no sentido de aumentar a ampliação de convênios com planos particulares. O sucesso de qualquer negócio é fazer muito com pouco. Temos um seleto time para nos ajudar a fazer uma gestão séria. Não iremos tolerar sermos usados pelo poder público para remendar as falhas de Campo Grande e do Estado de Mato Grosso do Sul. Em outubro do ano passado a direção chegou ao ponto de não efetuar o pagamento dos funcionários e fornecedores”, comentou.

Ainda de acordo com o presidente da Santa Casa, a CPI da Saúde em Mato Grosso do Sul vai ajudar a população a entender melhor como funciona o setor da saúde no Estado. De uma forma democrática e transparente, a CPI vai passar a limpo uma situação que tem gerado angústias, sofrimentos e mortes em Campo Grande e Mato Grosso do Sul, tudo isso por descaminhos e falta de informações e transparência. A sociedade não pode perder essa oportunidade.

Ministério Público

Segundo o presidente da Santa Casa, Wilson Teslenco, quando da intervenção em 2004, os Ministérios Públicos Estadual, Federal e do Trabalho alegaram que o melhor para a unidade seria o controle do município de Campo Grande e do Estado de Mato Grosso do Sul. “Foi afirmado que o poder público teria mais facilidade de administrar a Santa Casa, pois teria recursos necessários para arcar com os custos para manter a unidade. Mas na verdade o que aconteceu foi um aumento da dívida, redução dos leitos e do número de atendimento aos pacientes”, lembrou.

Segundo o deputado estadual Amarildo Cruz, presidente da Comissão, à vinda do presidente da Santa Casa foi de grande ajuda para a CPI. “Sua participação foi muito importante. Ajudou a elucidar uma série de dúvidas dos deputados. Agora vamos saber se a situação da Santa Casa melhorou ou piorou com a intervenção. Hoje, houve um compromisso no sentido de fazer um relatório para ajudar na nossa investigação. Vamos levantar os problemas e apresentarmos solução”, explicou.

Criação do hospital

Wilson Teslenco destacou aos deputados que a Santa Casa foi criada como uma iniciativa de homens públicos que percebendo a ausência do poder público tiveram a iniciativa de fundar, levantar recursos com a população da época e deram início nesse projeto. “Foi uma iniciativa corajosa. Foi obtido um financiamento na Caixa Econômica Federal. A obra teve início em 1977 e terminou três anos depois. O financiamento deveria ser pago em 15 anos, mas foi pago em 12.

Segundo o presidente, a partir de 1988 foi implantado no Brasil o SUS, considerado por ele uma das melhores ações. “É um sistema universal de atendimento. Um projeto arrojado, mas que trouxe algumas dificuldades que ainda precisam ser resolvidas. A partir desse momento deixou de haver a filantropia e a obrigatoriedade dos três entes públicos, o que não ocorreu na sua totalidade”, afirmou.

Convocações

O deputado estadual Amarildo Cruz, após deliberação com outros deputados que integram a Comissão, que a CPI da Saúde vai ouvir na próxima segunda-feira a Secretaria Estadual de Saúde, Beatriz Dobaschi. “Estamos convocando as pessoas mesmo antes de recebermos as informações solicitadas. Se for preciso, podemos convocar novamente as pessoas após a análise dos dados. Nós temos informações que nos permitem colher depoimentos. O e-mail da CPI já recebeu várias denúncias. Ainda não temos uma análise mais profunda, mas estamos adiantando as investigações”, finalizou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário