quinta-feira, 20 de junho de 2013

Artigo: Manifestações populares, um marco para o crescimento do País

O Brasil vive hoje um novo momento em sua história política e principalmente no campo social. Os protestos que tomaram às ruas de todo o país nos últimos dias mostram que a sociedade brasileira despertou de uma vez por todas e cansou de respostas evasivas dos representantes dos poderes judiciário, executivo e legislativo. A população quer mudanças, quer mais resultados e menos conversa. 

Quero expressar meu total apoio as manifestações. Acho legítimo e necessário o que a população vem fazendo no Brasil. Os brasileiros precisam se mobilizar, ir às ruas, falar para o país e para o mundo que alguma coisa está errada no Brasil, nos Estados e nos Municípios onde vivemos. Essa reflexão cabe a todos, principalmente nós, como cidadãos e políticos, como homens públicos, que temos a responsabilidade de procurar sempre o melhor para a sociedade.

Qual é o motivo dessas manifestações em nosso país? Será que aquilo que começou em São Paulo por conta do aumento da tarifa do transporte púbico de vinte centavos é a grande razão de milhares de pessoas nas ruas? Com certeza não é isso! Na verdade, o que o povo brasileiro está expressando é a sua indignação com tudo e com todos quando se trata do sistema político onde vivemos. 

É a decepção com o legislativo, com o judiciário, com o executivo. Ninguém se safa dessa decepção do povo. Toda essa movimentação me faz lembrar quando comecei a militar na política, nos movimentos organizados, ainda quando fazia faculdade de direito, na militância dos centros acadêmicos. 

Nesta época discutimos grandes temas do nosso país, entre eles, como iríamos adiantar o processo para sairmos da ditadura militar, como deveríamos agir para buscarmos as eleições diretas, os debates para a criação do Partido dos Trabalhadores, para que a população tivesse um canal de decisão e poder voltado às minorias. Tudo isso é uma história recente e rica desse país. Aquilo trouxe como consequência uma série de mudanças, como o fim da ditadura, a implantação das Diretas Já, a organização dos partidos políticos e, principalmente, a garantia da democracia para toda a sociedade. 

Em 1989, o primeiro presidente eleito pelo voto direto, Fernando Collor de Melo, causou uma grande decepção. Até pela composição, pela forma como se deu aquela eleição, todo mundo sabia que seria um caos, pois era um governo bancado por dois ou três órgãos importantes que resolveram criar um paladino da moralidade, criar um “super-herói que iria resolver todos os problemas do Brasil”.

Chegou-se ao cúmulo das pessoas votarem nele porque era considerado bonito. Desde quando beleza resolve o problema da fome, da saúde, da desigualdade social, entre outros? Collor sofreu o impeachment porque o povo foi para as ruas, houve um reclame, uma indignação, a mesma coisa que está acontecendo agora, e foi assim durante vários momentos da democracia brasileira.

Vejo que essas manifestações ordeiras e com objetivo definido impulsionam os rumos da sociedade, porque é o povo que faz as transformações necessárias, e que aperfeiçoam a democracia. É exatamente quando o povo se coloca como protagonista da história, que assume seu papel no contexto social, que ocorrem as grandes mudanças, as quais vão ecoar na eternidade. 

Penso ser extremamente importante quando os manifestantes falam que não querem partido político ao lado deles. Isso está correto, pois hoje a sociedade vive uma grande decepção com os partidos políticos, de uma forma geral. Está correto quando eles falam que não querem senador, deputado, vereador, presidente ou governador nas suas caminhadas. 

Este é o momento e precisamos fazer uma reflexão, todos nós, não só os políticos, mas também o judiciário e o executivo. Os representantes dos três poderes precisam ter a perspicácia para entender o que a população está falando. Ou nós fazemos uma reflexão e mudamos o rumo das coisas ou eles mudam o sistema que está colocado. Confesso que torço por essa mudança. O aumento de vinte centavos na passagem foi o estopim. 

Também quero destacar o papel das mídias sociais nessa mobilização. Elas são fantásticas e importantes. Aliás, é outra coisa que muita gente não está atenta. Hoje, as pessoas querem expressar suas opiniões e expor seu contraponto. Antigamente, éramos obrigados a aceitar a mídia pronta, quando os jornais, rádios e emissoras de televisão invadiam nossa casa já com a matéria pronta e dizendo que aquilo era verdade e não podíamos fazer nada.

Hoje, os tempos são outros. As mídias sociais nos permitem expressarmos nossas opiniões, debatermos com pessoas que nunca vimos e que estão a milhares de quilômetros das nossas vidas, mas a um post da internet, a um enter no teclado. Nessa manifestação vimos que alguns canais de televisão e jornais impressos que querem direcionar o povo para determinado lado, com o único objetivo de defender seus interesses, foram duramente criticados pela opinião pública. 

A manifestação se voltou, inclusive contra os dirigentes das emissoras. Teve rede de televisão que foi obrigada a fazer cobertura sem o símbolo da empresa nos microfones, por ter tratado os manifestantes como vândalos. O que se questiona é que quando a mesma emissora tratava protestos semelhantes ao do Brasil ocorridos na Europa às pessoas eram chamadas de manifestantes. Já no terceiro mundo eram tratados como vândalos. 

Sei que ainda precisamos aperfeiçoar muito, embora o país, do ponto de vista da desigualdade, tenha melhorado nos últimos anos. Citando o poeta Arnaldo Antunes, “A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte. Nós queremos vida digna, saúde e educação de qualidade”. 

A minha consciência de cidadão vem em primeiro lugar. Eu quero ver a minha pátria não de chuteiras, quero ver a minha pátria com banco de escola descente, esses valores são maiores que qualquer clássico de futebol e o povo está tendo esse convencimento. O povo está despertando a consciência da cidadania. 

Recentemente, criamos a CPI da Saúde na Assembleia Legislativa, uma tarefa árdua, complexa, mas importante para a qualidade de vida de milhares de pessoas no nosso Estado. Disseram que eu era maluco de assumir a presidência. Eu acredito na possibilidade que nós temos com o apoio da maioria dos deputados de mostrar qual é o problema da saúde em Mato Grosso do Sul. 

A Assembleia Legislativa tem a prerrogativa garantida na Constituição Federal de 1988 de criar uma CPI para investigar, e é isso que estamos fazendo. Vamos agir e apresentar resultados, nominar os responsáveis, encaminhar para que a Justiça tome providências e puna exemplarmente os responsáveis, além das sugestões que devem ser feitas para melhoria da gestão da saúde no nosso Estado. Já estamos atingindo nosso objetivo. Já ouvimos depoimentos importantes. Também temos recebido centenas de manifestações e denúncias. Isso mostra que a população está disposta a nos ajudar. 

Nesse momento a sociedade resolve fazer essa reflexão sobre o sistema que ela vive, o papel de cada cidadão neste contexto, e nós, deputados estaduais, temos uma obrigação de apurar a questão da saúde no Estado. A saúde é o principal reclame da população em todo o país. Vamos fazer um relatório apontando os problemas, culpados e soluções. Agora, o relatório por si só não basta. Cada cidadão precisa fazer a sua parte para melhorarmos a saúde em nosso Estado. 

O mais importante é nós ativarmos a sociedade para cada vez mais ter o controle social da saúde, porque não é o deputado, o senador, o vereador ou prefeito que vai resolver o problema, é a sociedade. A CPI possibilita essa interlocução com a população e cada vez mais cobra todos os que têm responsabilidade direta com a qualidade da saúde. Dessa forma vamos mudar o país.

Amarildo Cruz, deputado estadual (PT) 

OBS: Para assistir o vídeo do deputado estadual Amarildo Cruz basta clicar no link: 
http://www.youtube.com/watch?v=itRsT_5ibxM

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