quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Artigo: Agrotóxicos, uma intoxicação lenta e gradativa


Com o crescente aumento da população mundial, a necessidade pela produção de mais alimentos torna-se um grande problema. Todos os dias centenas de toneladas de produtos alimentícios precisam chegar à mesa das pessoas. Mas como garantir essa produção sem que haja risco de desabastecimento.

A solução encontrada na maioria dos países foi o uso de agrotóxicos nas plantações. Esse produto pode ser pulverizado de forma manual por trabalhadores a pé ou por aviões que sobrevoam as propriedades. O Brasil é o maior consumidor, ou seja, também o maior utilizador de agrotóxicos. Sabemos que o mercado agrícola tem uma grande importância financeira no País e muitas das vezes o interesse de uma maioria é deixado de lado para atender o desejo de uma minoria.  

Dados do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), órgão do Ministério da Saúde, afirmam que no Brasil a venda de agrotóxicos saltou de US$ 2 bilhões para mais de US$7 bilhões entre 2001 e 2008, alcançando valores recordes de US$ 8,5 bilhões em 2011. Em 2009 o país alcançou a indesejável posição de maior consumidor mundial de agrotóxicos, ultrapassando a marca de 1 milhão de toneladas, o que equivale a um consumo médio de 5,2 quilos de veneno agrícola por habitante.

De acordo com dados do Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso (Indea), Mato Grosso é o maior consumidor do Brasil, com o equivalente a 43 litros de veneno por habitante. Outro grande problema é a venda ilegal de agrotóxicos. Muitos deles contêm em sua composição produtos proibidos no País. Mato Grosso do Sul é rota para entrada desse produto, oriundos da Bolívia e do Paraguai, e consequentemente parte dessa mercadoria acaba sendo comercializada no território sul-mato-grossense.

Entre os plantios que utilizam mais agrotóxicos estão à cana-de-açúcar, a soja, o milho, a mandioca, a laranja e o arroz (é importante lembrar que isso não está relacionado diretamente com a ‘contaminação’ por agrotóxico, mas sim a amplitude que esses alimentos são cultivados). As frutas, verduras e legumes nas gôndolas dos supermercados que chamam a atenção pela beleza com certeza trazem consigo agrotóxicos.

É comprovado que os produtos produzidos com o uso de agrotóxicos são “maiores e mais bonitos” que os sem química. Isso ocorre porque elas não sofrem tanto com a ação de agentes nocivos, combatidos com o auxílio dos agrotóxicos e, por isso, conseguem crescer mais facilmente. Entretanto, a beleza das frutas, verduras e legumes esconde na verdade um grande problema. Será que a população sabe quais os danos à saúde, aos animais e ao meio ambiente que os agrotóxicos podem causar?

Com certeza apenas uma pequena parcela da população mundial sabe essa resposta. Em relação às pessoas, elas são afetadas de três maneiras: durante sua fabricação, no momento da aplicação e ao consumir um produto contaminado. Independentemente da forma de contato, os efeitos são extremamente perigosos.

Problemas como o Mal de Alzheimer estão associados à exposição a inseticidas, assim como o desenvolvimento de transtorno do déficit de atenção com hiperatividade em crianças. Irritação da pele, problemas hormonais e até o desenvolvimento de câncer, hepatite, diabete, entre outros, são atribuídos pela ciência devido o contato com agrotóxicos.

No caso das grávidas o risco é muito maior, uma vez que o contato com agrotóxicos durante a gestação pode causar a morte de fetos, defeitos de nascença, problemas de desenvolvimento neurológico, diminuição do tempo de gestação e pouco peso do bebê.

O agrotóxico, quando aplicado pelos humanos por meio de pulverizadores manuais, atinge não só a plantação, mas também o corpo daqueles que os aplicam. Além disso, parte do produto entra em contato com o solo, enfraquecendo-o com o passar dos anos. A situação é mais preocupante quando o produto é aplicado por aviões. As aeronaves sobrevoam a plantação e “despejam o veneno”, porém com o auxílio do vento esse produto percorre centenas de metros, contaminando aquilo que está no seu caminho, como nascentes de rios, lagoas, pessoas, animais, entre outros. 

Estudos estimam que aproximadamente 25 milhões de trabalhadores agrícolas de países pobres sofram com algum tipo de intoxicação causada por exposição a agrotóxicos. Um dos casos mais famosos aconteceu na cidade de Anniston, no estado norte-americano do Alabama, onde as atividades de uma grande empresa de tecnologia agropecuária causaram a intoxicação de toda população.

No Brasil, duas grandes empresas multinacionais firmaram acordo em 2013 para indenização da ordem de R$ 200 milhões envolvendo cerca de mil trabalhadores contaminados por substâncias cancerígenas, entre 1974 e 2002, numa fábrica de pesticidas em Paulínia, no interior de São Paulo. Porém, no Brasil um dos casos mais graves registrados ocorreu na cidade de Lucas do Rio Verde. Em 2006, a população e animais foram vítimas de intoxicação causada pela pulverização aérea de um agrotóxico  proibido em diversos países e na União Europeia. O produto, que era aplicado na produção agrícola da região, foi levado pelos ventos até à cidade, causando diversos problemas.

Os moradores apresentaram os mais diversos problemas de saúde. Amostras de leite materno mostraram que 100% do material analisado tinha algum tipo de composto químico tóxico. Outros sintomas apresentados foram a má formação fetal, indução ao aborto, desregulamento do sistema endócrino, e o desenvolvimento de câncer.

Em relação ao meio ambiente, ocorre a contaminação do solo, de lençóis freáticos e de rios e lagos. Há inseticidas que seu composto permanece no corpo do inseto ou de um peixe após sua morte. Se algum outro animal se alimentar de um ser contaminado, também ficará intoxicado, e assim sucessivamente aumentando o alcance do problema. Também ocorre a diminuição do número de abelhas polinizadoras e a destruição do habitat de pássaros em ambientes onde pesticidas são utilizados.

Infelizmente, o Brasil concede isenção de impostos às indústrias produtoras de agrotóxicos e ainda permite o uso de produtos já proibidos em outros países. Precisamos de mais leis e medidas para controlar esse setor. A solução encontrada é o consumo de produtos orgânicos, ou seja, sem agrotóxicos. Todavia, eles ainda não são acessíveis a toda a população devido o seu alto valor.

Por isso, no próximo dia 17 realizaremos, juntamente com os deputados federal e estadual Zeca do PT e Pedro Kemp, respectivamente, o Seminário; Os Impactos dos Agrotóxicos na Sociedade. Ao final do evento faremos um documento para cobrar mais ações fiscalizadoras desse setor e políticas que incentivem a produção de orgânicos em nosso País.

Amarildo Cruz é Fiscal Tributário Estadual e Deputado estadual pelo PT

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